Análise do Solo
Existem vários tipos de análises de solo disponíveis no mercado, a escolha dependerá do objetivo a ser alcançado. As análises conhecidas como “rotina” dão subsídios aos profissionais para definir as doses de calcário e adubos a ser aplicadas no solo para determinado cultivo. Uma análise de rotina completa contempla fertilidade, inclusive micronutrientes, matéria orgânica (MO) e granulometria ou textura.
Fertilidade
1 – pH (potencial hidrogeniônico)
Representa a concentração de hidrogênio na solução do solo [H+], também conhecido como acidez ativa do solo.
Unidade: mols de H+/ litro de solução.
Exemplo: 10-6 mols de H+/ litro de solução.
Metodologia
A maioria dos laboratórios determinam pH em água, outros programas utilizam outras formas de determinação do pH, como por exemplo, cloreto de cálcio (CaCl2) 1M, cloreto de potássio (KCl) 1N. Assim, é importante observar a metodologia utilizada.
Para pH em água, utiliza-se a seguinte interpretação:
2 – Fósforo e potássio disponíveis
Na quantificação do fósforo (P) e potássio (K) disponíveis adotam-se dois procedimentos: extração do solo, realizada com extrator North Carolina ou Mehlich 1 (H2SO4 0,025 N + HCl 0,05 N) e determinação dos teores desses dois nutrientes, utilizando colorímetro (P) e fotômetro de chama (K).
Unidade: mg/dm3 de solo, que corresponde ao antigo ppm (não recomendado no Sistema Internacional de Unidades), e pode ser transformada em kg/ha, utilizando a fórmula a seguir:
Exemplo: 5 mg de P/dm3 de solo.
1 dm3 = 10 cm x 10 cm x 10 cm = 1000 cm3 = 1 litro de solo
Como a densidade do solo é próxima a 1, então 1 litro equivale a 1kg de solo, portanto, tem-se:
5 mg de P em 1 kg de solo, ou, 0,000005 kg de P em 1 kg de solo.
Em 1 hectare, considerando a camada arável de 0 a 20 cm tem-se 2000 m3 de solo ou 2.000.000 kg, por regra de três tem-se:
Para P e K disponíveis utilizar a interpretação:
Observe que o nível de P no solo depende do P remanescente (rem).
Considerando três solos com um mesmo teor de P disponível, porém, valores diferentes de P-rem:
Neste caso, pode-se afirmar que embora os solos apresentem o mesmo teor de P disponível, o solo 1 deverá receber uma menor dose de adubo fosfatado do que o solo 2 e, este, menos que o solo 3.
3 – Fósforo remanescente
Atenção: os valores relativos ao P-rem não representam níveis de P no solo, e sim uma estimativa da capacidade tampão do mesmo e, depende não só do teor de argila, mas também da sua mineralogia e teor de MO do solo. Os resultados do P-rem podem variar de 0 a 60 e permitem determinar o valor “Y” para calagem (capacidade tampão para variação do pH), além dos níveis de P disponível e enxofre (S) no solo.
Unidade: mg/L de solução do solo.
4 – Cálcio, magnésio e alumínio trocáveis
O cálcio (Ca) e o magnésio (Mg) são considerados macronutrientes e na maioria dos solos tropicais encontram-se em níveis baixos. Já o alumínio (Al), é um elemento tóxico para as plantas e está associado à acidez. São denominados trocáveis por estarem adsorvidos (ligados) às cargas negativas das argilas – capacidade de troca catiônica (CTC) e estão em equilíbrio com a solução do solo.
A extração desses elementos do solo é feita com uma solução de KCl na concentração de 1N e a determinação pode ser feita por titulometria ou espectrofotômetro de absorção atômica.
Unidade: cmol(C)/dm3 de solo. O centimol de carga (cmol(C)) é um submúltiplo do Mol (Mol/100) e pode ser quantificado utilizando o peso molecular e a valência do elemento em questão, utilizando os valores da fórmula:
Também utilizando os valores a seguir:
Esta unidade de concentração pode ser transformada em kg/ha.
Exemplo:
A interpretação para Ca, Mg e Al é a seguinte:
5 – Acidez potencial (H+ + Al+++)
Corresponde ao somatório da acidez trocável e acidez não trocável que se encontram adsorvidas (ligadas à CTC do solo). A extração da acidez potencial é feita utilizando solução de acetato de cálcio a pH 7.0 ou tampão SMP, e a determinação é feita por titulometria.
Unidade: cmol(c)/dm3 de solo.
A interpretação dos resultados para acidez potencial é a seguinte:
6 – Micronutrientes
Os micronutrientes são elementos químicos essenciais para os vegetais, porém em pequenas quantidades, quando comparados com os macronutrientes. São divididos em dois grupos, de acordo com a forma de absorção: catiônicos – zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), cobalto (Co) e níquel (Ni) – e aniônicos – boro (B), cloro (Cl) e molibdênio (Mo). Embora existam metodologias para determinação de todos eles, na rotina só se determina B (água quente), Cu, Zn, Fe e Mn (Mehlich 1).
Unidade: mg/dm3, mesma unidade usada para P e K disponíveis.
A interpretação dos resultados para micronutrientes é a seguinte:
7 – Enxofre
O S, assim como o Ca e o Mg, é considerado um macronutriente secundário.
Para a interpretação dos níveis de S no solo, deve-se considerar o resultado do P-rem como a seguir:
Matéria orgânica
8 – Carbono orgânico
Para estimar os teores de MO do solo primeiramente deve-se determinar o teor de carbono orgânico.
Unidade: dag/kg.
Esta unidade substitui a porcentagem (%) e se equivalem (1 dag/kg é igual a 1%), que não é mais recomendada no Sistema Internacional de Unidades. Alguns laboratórios utilizam o submúltiplo g/kg (1 dag/kg é igual a 10 g/kg).
Estimativa da MO: basta multiplicar o carbono orgânico pelo fator 1,724, como na fórmula:
A interpretação dos resultados para a MO do solo é a seguinte:
Granulometria ou análise textural
9 – Areia, silte e argila
Esta determinação define a relação entre as partículas unitárias (areia, silte e argila), presentes na fração terra fina do solo (partículas menores que 2,0 mm). Trata-se, portanto, de uma análise física de separação das partículas por tamanho.
A seguir apresentam-se as partículas unitárias presentes na fração terra fina:
Os resultados da análise textural podem ser expressos em porcentagem (%), dag/kg de solo ou g/kg de solo.
Exemplo: 50% de areia correspondem a 50 dag/kg de solo ou 500 g/kg de solo.
Após obtenção dos valores de areia, silte e argila pode-se definir a classe textural a que pertence o solo. Duas classificações podem ser usadas. A classificação simplificada, que considera somente o teor de argila contemplando quatro classes e a classificação detalhada, que considera os teores das três frações e contempla 13 classes.
A interpretação simplificada das classes texturais do solo é apresentada a seguir:
A interpretação detalhada para classes texturais do solo é a seguinte:
Os atributos discutidos nos itens 1 a 9 referem-se a determinações analíticas feitas no laboratório, como descrito. Os itens 10 a 16 correspondem a cálculos realizados a partir dos resultados analíticos obtidos. São eles; soma de bases (SB), CTC efetiva (t), CTC a pH 7 (T), porcentagem de saturação por bases (V%), porcentagem de saturação por Al (m%), relações entre bases e relações entre bases e CTC.
10 – Soma de bases
São considerados bases do solo o Ca, o Mg e o K. Para os solos salinos deve-se considerar, ainda, o sódio (Na). O cálculo da SB é feita utilizando a seguinte fórmula:
Unidade: cmol(c)/dm3 de solo.
Observação: para o cálculo dos atributos de 10 a 16, deve-se primeiramente fazer a transformação do K de mg/dm3 de solo para cmol(c)/dm3 de solo, o que pode ser feito utilizando a seguinte fórmula:
11 – Capacidade de troca catiônica efetiva
A CTC efetiva (t) mede a quantidade de cargas negativas que estão presentes no solo, considerando o pH em que este se encontra, podendo ser calculada pela seguinte fórmula:
Unidade: cmol(c)/dm3 de solo.
12 – Capacidade de troca catiônica a pH 7.0
A CTC a pH 7 (T) considera todas as cargas do solo (permanentes e dependentes do pH), caso o pH do solo seja ajustado a 7 é calculada somando a SB com a acidez potencial utilizando a fórmula:
Unidade: cmol(c)/dm3 de solo.
13 – Porcentagem de saturação por bases
Indica a proporção de bases com relação à CTC a pH 7 (T). É calculada pela fórmula:
14. Porcentagem de saturação por alumínio
Indica a proporção de Al com relação à CTC efetiva (t) e é calculada utilizando a fórmula:
A interpretação dos atributos discutidos nos itens 10 a 16 é a seguinte:
15 – Relações entre bases
A atenção a estas relações é bastante importante, uma vez que estes nutrientes disputam os mesmos pontos de troca da CTC. Assim, o excesso de um pode levar à deficiência induzida dos outros. Cada espécie vegetal exige uma relação específica entre as bases, de acordo com sua necessidade nutricional.
De modo geral, pode-se considerar como ideais as relações descritas a seguir:
16 – Relações entre bases e CTC
Também é interessante observar a saturação de cada base na CTC total do solo. Assim como no caso anterior, cada cultura exige uma saturação específica de cada nutriente.
As relações descritas a seguir podem ser consideradas boas para a maioria das culturas:
Fonte
EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DE MINAS GERAIS. Análise de Solo: Determinações, Cálculos e Interpretação. 1ª ed. Belo Horizonte – MG: EPAMIG.
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