A tecnologia de aplicação consiste na adoção de todos os conhecimentos técnicos disponíveis para proporcionar a correta colocação de um produto biologicamente ativo (defensivos agrícolas, por exemplo) no alvo (planta, praga, solo etc.).
A aplicação inadequada de defensivos é sinônimo de prejuízo para o agricultor pois, além de não controlar a praga-alvo, gera desperdício e aumenta consideravelmente os riscos de contaminação das pessoas e do ambiente.
Fatores que interferem na tecnologia de aplicação
As seguintes variáveis devem ser consideradas quando falamos de tecnologia de aplicação:
Praga
Primeiramente, é necessário conhecer a praga que se deseja controlar. Podem ser ácaros, insetos, fungos, nematóides ou plantas daninhas. É necessário saber seu comportamento, estágio de desenvolvimento e espécie.
Local de ocorrência da praga
O local de aplicação nunca é a cultura, mas sim o local de ocorrência da praga na cultura. Algumas pragas ficam mais expostas, outras ficam no interior da cultura, em áreas mais difíceis de serem atingidas.
Produto a ser aplicado
A escolha do produto é realizada em função do conhecimento da praga que se pretende controlar. Pode ser um defensivo químico ou biológico e com diversos modos de ação sobre o organismo-alvo. É necessário conhecer de que forma o produto se distribui na planta para que ele atinja o alvo desejado.
Alvo
Corresponde à superfície de depósito de um produto a ser aplicado. Este pode ser o alvo biológico, ou seja, a praga que se pretende controlar (fungo, inseto, plantas daninhas etc.), ou folhas, caule, frutos, solo, etc. O alvo de aplicação é determinado após a identificação da praga e seu local de ocorrência.
Momento da aplicação
Esse momento deve ser analisado tanto em relação à praga quanto ao produto. Quando em relação à praga, deve ser observada a sua ocorrência, quando atinge o nível de controle de acordo com o manejo integrado de pragas. Quando em relação ao produto, é necessário observar se ele é de ação curativa ou preventiva.
Equipamento
O equipamento tem a capacidade de gerar e depositar gotas no alvo. Por isso, a escolha do tipo de equipamento a ser utilizado, assim como sua regulagem, influencia na tecnologia de aplicação dos defensivos.
Ambiente
O ambiente interfere na aplicação, principalmente porque o veículo utilizado para fazer a pulverização é a água. Por isso o vento, a temperatura, a umidade relativa do ar e a radiação solar devem ser levados em consideração.
Recomendações básicas para a tecnologia de aplicação de defensivos
Após a observação dos fatores que interferem na tecnologia de aplicação, algumas recomendações devem ser levadas em consideração:
- O defensivo deve ser aplicado nas horas menos quentes do dia, de preferência, temperaturas menores do que 30°C;
- A umidade relativa do ar deve estar acima de 50%;
- Se possível, com menor exposição à radiação ultravioleta;
- A velocidade do vento deve estar entre 3 e 10 km/h;
- Deve-se ajustar corretamente o equipamento de aplicação, é ele quem vai fazer o produto atingir o alvo.
Para produtos biológicos, no entanto, um cuidado adicional deve ser tomado:
- Se, na formulação, não houver produtos que protejam o microrganismo ou suas estruturas de reprodução da radiação ultravioleta, é recomendável que a aplicação seja feita das 4h às 5h da tarde. Desse modo, é possível reduzir os efeitos da radiação sobre as estruturas que estão sendo depositadas sobre a planta e sobre o solo.
Mas, mesmo no caso de defensivos químicos, é errado imaginar que eles vão suportar qualquer condição de clima para a aplicação. Por isso, todas as recomendações apontadas devem ser seguidas.
Deriva: um problema quando a tecnologia de aplicação não é bem empregada
Quando empregada de maneira inadequada, a tecnologia de aplicação pode resultar em deriva.
Deriva é a parte da calda aplicada que não atinge o alvo durante ou após uma aplicação. Isso pode ocorrer por evaporação, escorrimento e/ou deslocamento para outras áreas por meio do vento.
A deriva pode implicar em danos econômicos e socioambientais, a exemplo dos mencionados a seguir:
- Aumento dos custos de produção, pois pode não ocorrer o efeito de controle desejado.
- Aplicação de defensivos agrícolas em lugares indesejados.
A deriva está associada a alguns fatores:
- Pressão excessiva na pulverização;
- Excesso de velocidade do pulverizador;
- Uso de gotas finas ou muito finas em condições climáticas limites;
- Aplicações fora das condições climáticas adequadas.
- Pontas de pulverização e tecnologia de aplicação
Na tecnologia de aplicação, as principais funções das pontas de pulverização são:
- Determinar a vazão da calda;
- Determinar o tamanho das gotas;
- Definir a forma do jato emitido.
As diferentes pontas de pulverização podem gerar gotas:
- Muito finas;
- Finas;
- Médias;
- Grossas;
- Muito grossas;
- Extremamente grossas.
O tipo de gota a ser utilizado depende do objetivo da aplicação. Quando se pretende melhorar a cobertura dos alvos, deve-se utilizar gotas menores (muito finas, finas ou médias) ou maior volume de caldas.
- Para aplicar um menor volume e manter a cobertura, deve-se utilizar gotas mais finas.
- Para aplicação de maior volume e manter a cobertura, deve-se utilizar gotas maiores.
- E para pragas ou doenças de baixeiro, deve-se utilizar gotas menores e maior volume de calda.
Os tipos de pontas de pulverização são:
Pontas de jato plano
Essas são mais conhecidas como “leque” ou “de impacto”. Produzem gotas finas e médias, devem ser utilizadas em condições climáticas mais amenas. Seu uso é mais indicado para alvos planos, como solo ou mesmo algumas culturas, como a soja etc.
Pontas de jato plano duplo
Também chamadas de duplo leque ou de jato cônico, produzem gotas finas e muito finas. Somente devem ser utilizadas em condições climáticas ideais.
Pontas de injeção de ar
Produzem gotas grossas e muito grossas devem ser preferidas em aplicações próximas aos limites climáticos.
Pontas de pré-orifícios
Produzem gotas médias a grossas, devem ser utilizadas em condições climáticas intermediárias.
Pontas de jato cônico
São tipicamente compostas por dois componentes denominados ponta (ou disco) e núcleo (difusor, caracol ou espiral). Uma grande variedade de taxas de fluxo, de ângulos de deposição e de tamanhos de gotas podem ser obtidos por meio das várias combinações desse tipo de ponta.
Regulagem e calibragem do equipamento na tecnologia de aplicação
Quando se fala em tecnologia de aplicação de defensivos, regular é diferente de calibrar. Regular significa ajustar os componentes do equipamento à cultura e aos produtos a serem utilizados. Os pontos do equipamento a serem regulados são:
- Velocidade;
- Tipos de pontas;
- Espaçamento entre bicos;
- Altura da barra para a aplicação.
Calibrar é determinar o volume de aplicação e a quantidade de produto a ser colocada no tanque por meio da vazão das pontas.
Outros pontos que devem ser levados em consideração na tecnologia de aplicação
- Utilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) durante todo o processo de manuseio, incluindo preparo da calda e aplicação;
- Nunca utilizar o material de preparo da calda em outras atividades;
- Utilizar somente produtos registrados para a praga e para a cultura;
- Seguir corretamente as instruções do rótulo do produto;
- Seguir rigorosamente as dosagens recomendadas pelo técnico responsável;
- Fechar bem a tampa do pulverizador para evitar vazamentos;
- Não beber e/ou comer durante a aplicação de defensivos;
- Se ocorrer alguma contaminação, lavar imediatamente com água e sabão;
- Manter as embalagens em local seguro e protegido de intempéries, realizando a tríplice lavagem e encaminhando ao local autorizado para recebimento;
- Não reutilizar embalagens;
- A quantidade de produto aplicada e o intervalo entre as aplicações também devem ser respeitados para que o defensivo faça o efeito desejado, sem causar prejuízos;
- Higienizar os EPI’s depois de cada aplicação é fundamental para a garantia do uso seguro e responsável;
- Cumprir o período de carência é essencial para evitar resíduo do agrotóxico no alimento em níveis acima do limite máximo permitido.
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