Entre as muitas pragas presentes nas lavouras, os nematoides estão entre as mais comuns. Tratam-se de vermes microscópicos capazes de prejudicar as raízes e interferir no crescimento e na produtividade da plantação. Por afetarem o vigor das plantas e causarem a clorose das folhas, muitos produtores os confundem com deficiências nutricionais ou estresse hídrico, por isso é preciso investigar.
É comum que, pela experiência e conhecimento do manejo da terra, conclusões assim ocorram a partir de impressões superficiais, o que acaba levando a uma resolução pontual do problema. Entretanto, o perigo de não tratar dos nematoides da maneira correta é a contaminação de toda a lavoura!
A verdade é que esses vermes têm dificuldades de se locomover em grandes espaços de terra. Mas o descuido com o manejo do solo e, especialmente, com as máquinas utilizadas na produção podem espalhar essa praga. Logo, identificá-la e tratar o problema o quanto antes é o meio mais eficaz de evitar prejuízos maiores, já que a erradicação total do verme é muito difícil.
Os principais tipos de nematoides
São diversos gêneros de nematoides que existem nos cultivos agrícolas. Contudo, no Brasil, três tipos predominam: os nematoides de galha (Meloidogyne incognita e M. javanica), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide de cisto (Heterodera glycines). Vamos explicar as características de cada um deles a seguir. Confira!
Nematoide de galha
Em geral são mais difíceis de detectar porque as alterações ocorrem principalmente na raiz. Com a ação desse nematoide, ocorrem nódulos e tumores nas raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes e afetando o crescimento das plantas. Esse tipo infecta uma grande variedade de famílias botânicas e se destaca pela ampla distribuição e sobrevivência.
Nematoide das lesões radiculares
Esse nematoide causa lesões nas raízes capazes de deixá-las desprotegidas às ações de bactérias e fungos que provocam necroses e podridões. Outros sintomas são nanismo, enfezamento e murchamento das folhas. As massas de raiz também podem ser reduzidas.
Nematoide de cisto
Trata-se de um nematoide exclusivo da soja que pode provocar perdas de até 100% do plantio. Por conta dele, as raízes podem ficar raquíticas, diminuindo nódulos de fixação do nitrogênio e deixando as plantas mais vulneráveis à infecção de outros patógenos do solo.
Como erradicar os nematoides na plantação
Erradicar é uma tarefa bastante difícil, mas há boas chances de dificultar a circulação desses vermes e reduzir os estragos causados por ele. Para tanto, é importante saber que os nematoides chegam à sua lavoura, basicamente, de três formas: por meio de mudas produzidas em substratos ou solos contaminados, por água de irrigação e por meio de máquinas ou equipamentos sujos com solo infectado.
Com essa informação, algumas iniciativas já podem ser tomadas, como a limpeza contínua dos reservatórios de água, dos canais de irrigação e das máquinas e implementos agrícolas, principalmente os utilizados em áreas contaminadas.
O uso de mudas produzidas em substratos esterilizados é fundamental e até o controle de acesso de pessoas e animais em áreas infestadas é um cuidado adequado, para que eles não levem os nematoides para terras sadias.
Contudo, o ponto central dessa discussão é: como saber que o que está causando essas deficiências na lavoura são nematoides? E qual é o tipo de verme que está parasitando a plantação? Responder a essas perguntas depende de uma única atitude: testar o solo.
Essa análise precisa ser feita na fase do pré-plantio para que as sementes não sejam espalhadas em terra já contaminada. É preciso coletar pequenas amostras de solo (em torno de 200g) também compostas de algumas raízes. O ideal é ter de 15 a 20 amostras por hectare, extraídas em uma profundidade de 20 a 30 centímetros ao redor das plantas em zigue-zague (ou seja, não retirar amostras de plantas enfileiradas).
Esse material precisa ser analisado o quanto antes para evitar resultados equivocados. Por isso, o indicado é que esse trabalho seja feito em até duas semanas. Até lá, é preciso ter o cuidado de não deixar as amostras expostas ao sol, nem colocá-las no congelador. O correto é armazená-las na geladeira, em temperatura de aproximadamente 10⁰C.
Como tratar o solo após descobrir os parasitas
Já falamos sobre algumas ações capazes de evitar contaminações e a propagação dos nematoides pela lavoura. Porém, depois de descobrir que eles, de fato, estão presentes no solo, algumas ações são indispensáveis para diminuir o prejuízo e proteger a plantação.
A primeira dica é remover as raízes infectadas após a colheita, amontoá-las para que sequem e, em seguida, queimá-las em local adequado. Dessa maneira, diminui-se o nível populacional de nematoides, protegendo o próximo plantio.
Este próximo plantio, aliás, precisa ser muito bem planejado. Antes de iniciá-lo, é prudente expor as camadas mais profundas do solo à radiação solar nas horas mais quentes do dia, pois os nematoides são sensíveis a temperaturas extremas. Depois, pode-se começar a preparação da lavoura seguinte.
Como a terra estava infestada desses vermes, o interessante é escolher plantas capazes de dificultar a proliferação ou mesmo de impedir o desenvolvimento dessa praga. Então, fazer a rotação de culturas é primordial.
Entre as opções, as plantações de amendoim, braquiárias, crotalária e mamona são excelentes para provocar uma escassez de alimentos de nematoides do tipo de galha. Já para o cisto da soja, culturas como arroz, algodão, sorgo, milho e girassol podem ser eficazes.
Com esse mesmo objetivo, o plantio de plantas antagonistas também pode ser considerado. Elas são capazes de impedir o desenvolvimento de alguns nematoides por meio da liberação de substâncias tóxicas a eles. Entre elas, destacam-se as crotalárias, o cravo-de-defunto e as mucunas.
Por fim, o controle químico e físico do solo deve ser sempre mantido em dia para permitir as melhores condições de atividade microbiana, bem como a permanência de inimigos naturais dos nematoides no solo.
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