Pular para o conteúdo principal

REÚSO DA ÁGUA NA AGRICULTURA | Saiba como funciona e quais os benefícios da reutilização da água na agricultura

Conviver com o aumento da necessidade de produção de alimentos mantendo a sustentabilidade da agricultura é indubitavelmente um desafio prioritário para o século XXI.

A disponibilidade de água de qualidade e em quantidade adequadas para produção seja de alimentos e/ou de outros bens, é cada vez mais restrita, uma vez que os fatores que regulam esta situação estão diretamente correlacionados com a sustentabilidade ambiental da região onde se encontram os mananciais.

Em face disso, entre os diferentes recursos naturais utilizados na produção agropecuária, a água tem-se constituído num fator limitante ao sucesso de qualquer empreendimento, principalmente, em decorrência da sua escassez e/ou qualidade, com reflexos limitantes ao desenvolvimento sócio econômico de determinadas regiões.

O emprego da água de reuso na agricultura pode ser uma estratégia bastante eficaz para preservar os recursos hídricos e diminuir sua utilização indiscriminada, haja vista que essa atividade econômica é a que mais emprega água em seu processo produtivo, com cerca de 70% de todo o consumo realizado no mundo.

Além de proporcionar uma maior economia dos recursos hídricos, a reutilização de água na agricultura pode também servir para atender localidades em que a existência desses recursos é escassa ou em que a estiagem prejudica as lavouras em determinadas épocas do ano. Outra vantagem é o fato de que alguns dos elementos residuais que permanecem nas águas após o tratamento podem ser benéficos para as lavouras, a exemplo do nitrogênio, do potássio e do fósforo.

A região semiárida do Nordeste do Brasil é caracterizada por apresentar um curto período chuvoso, temperatura elevada e alta taxa de evaporação. Quanto à quantidade de água no solo disponível às plantas nesta região, registra-se uma deficiência hídrica na grande maioria dos meses do ano.

Desta forma, o reuso planejado de águas na agricultura é uma medida para atenuar o problema da escassez hídrica no semiárido sendo também uma alternativa para os agricultores localizados especificamente nas áreas circunvizinhas das cidades.

Como podemos perceber, o reuso da água na agricultura possui uma série de vantagens. Em algumas localidades, a utilização de água de esgoto tratada apresenta-se como uma grande necessidade. Em áreas próximas a grandes centros urbanos, o tratamento da água com posterior aplicação nas lavouras, além de garantir a produtividade durante todo o ano e reduzir a pressão sobre os mananciais, é eficaz para evitar a poluição dos solos e de outros recursos hídricos ocasionada pela deposição do esgoto gerado nas cidades.

O reuso consciente e planejado de águas de baixa qualidade, ou seja, provenientes de drenagem agrícola, águas salobras, de chuva e esgotos domésticos e industriais, constitui o mais moderno e eficaz instrumento de gestão para garantir a sustentabilidade da gestão dos recursos hídricos nacionais.

Além disso, dados oficiais da Agência Nacional de Águas (ANA) mostram que a maioria dos corpos d’água doce superficiais brasileiros apresenta qualidade inferior àquela permitida para o uso em irrigação de hortaliças consumidas in natura.

Essa situação se agrava em áreas densamente povoadas como nas regiões metropolitanas, em áreas urbanas e periurbanas. Nestas, estão localizadas importantes áreas de produção de hortaliças, denominadas de cinturões verdes das grandes cidades, o que denota a relevância do tema.

Não é em qualquer tipo de lavoura que a água de reuso pode ser livremente empregada. A depender de sua qualidade, ela só pode ser empregada em culturas cujos produtos serão processados posteriormente, ou seja, que não serão consumidos diretamente. Tudo isso depende da qualidade e da origem da água que está sendo reutilizada.

Não obstante os benefícios que o uso de águas residuárias oferece para regiões com carência hídrica e para preservação ambiental, são necessários cuidados, como tratamento e avaliação, no intuito de se verificar: os aspectos de sodicidade, a salinidade, o excesso de nutrientes e, sobretudo, os aspectos sanitários: bactérias, cistos de protozoários, ovos de helmintos e vírus, que criam graves problemas de saúde pública uma vez que acarretam enfermidades

É consenso geral que a irrigação com esgoto, sem tratamento adequado, pode ser nociva ao meio ambiente, à saúde humana, ao solo, aos aquíferos e às culturas irrigadas já que tanto o afluente quanto o efluente podem conter certos constituintes poluentes.

A reutilização não está livre de riscos, tanto em termos de sua possível falta de adequação agronômica para a irrigação, como sanitários, devido à possível presença de microrganismos patogênicos na água recuperada. Além disso, devemos ter em mente que, com a reutilização, podemos afetar o meio ambiente, devido à possível presença de agentes biológicos, metais pesados e vários compostos orgânicos capazes de produzir efeitos nocivos a longo prazo.

No entanto, a tecnologia de purificação atual permite obter efluentes de água recuperada de várias qualidades, até mesmo um nível tão alto quanto o da água potável. O objetivo é obter um produto que seja adequado para ser empregado em diferentes usos (agrícola, industrial, recreacional, municipal, etc.). Para aplicar a reutilização em qualquer uso agrícola, são necessários tratamentos terciários avançados.

Vantagens do reuso de água na agricultura

  • Recuperação e economia de água;
  • Redução nos gastos com fertilizantes químicos e nos custos na produção agrícola;
  • Aumento da fertilidade dos solos devido às incorporações de matérias orgânicas, nos esgotos brutos, de nutrientes essenciais às plantas, como o nitrogênio (10-100 mg L-1), fósforo (5-25 mg L-1 ) e potássio (10-40 mg L-1) além dos microelementos;
  • Aumento da produção agrícola;
  • A formação de húmus em consequência da mineralização lenta da matéria orgânica dos esgotos exercendo forte influência nas propriedades físicas e químicas do solo, como a retenção de água;

Além dessas vantagens citadas, as maiores vantagens do aproveitamento da

  • água residuária para fins agrícolas residem em: conservação da água disponível de boa qualidade e possibilidade de aporte e reciclagem de nutrientes.
  • No tratamento de águas residuárias, o principal objetivo é diminuir a quantidade dos sólidos totais suspensos e dissolvidos, a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), a demanda química de oxigênio (DQO), e também exterminar o máximo possível de organismos patogênicos.

Alguns riscos potenciais à saúde humana pelo uso de água residuária para fins agrícolas são:

  • Contaminação de alimentos (substâncias químicas tóxicas);
  • Contaminação direta de trabalhadores;
  • Contaminação do público por aerossóis;
  • Contaminação de consumidores de animais que se alimentam das pastagens irrigadas ou criados em lagoas contaminadas.

Dessa forma, é necessário realizar tratamentos mínimos e avançados de acordo com os parâmetros de qualidade específicos a cada uso destinado.

O tratamento completo de efluentes compreende várias etapa, a saber:

  • Tratamentos preliminares: retirada de material mais grosseiro como areia, sólidos grandes, óleos e graxas, utilizando grades, caixas de areia e tanques de flutuação;
  • Tratamentos primários: retirada de materiais sólidos em suspensão, não grosseiros, em unidade de sedimentação e decantadores;
  • Tratamentos secundários: remoção de sólidos e de matéria orgânica não sedimentável e, eventualmente, nutrientes como nitrogênio e fósforo;
  • Tratamentos terciários: remoção de poluentes tóxicos ou não biodegradáveis ou eliminação de poluentes não degradados no tratamento secundário;
  • Desinfecção: eliminação dos patógenos que sobreviveram aos tratamentos anteriores, utilizando métodos naturais, como lagoa de maturação, ou métodos artificiais, como a radiação ultravioleta, a cloração e a ozonização.

É importante salientar que, seguindo a Lei das Águas, a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. É preciso que todos entendam e unam esforços a fim de garantir esse recurso valioso para todos os brasileiros e às futuras gerações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TABELAS DE INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISE DE SOLO

Classificação das leituras de pH em água e em CaCl 2 pH em água Classificação* < 5 acidez elevada 5,0 a 5,9 acidez média 6,0 a 6,9 acidez fraca 7,0 neutro 7,1 a 7,8 alcalinidade fraca > 7,8 alcalinidade elevada pH em CaCl 2 Classificação* < 4,3 acidez muito alta 4,4 a 5,0 acidez alta 5,1 a 5,5 acidez média 5,6 a 6,0 acidez baixa 6,0 a 7,0 acidez muito baixa 7,0 neutro > 7,0 alcalino * Relação solo:solução = 1:2,5 Interpretação de análise de solo para P extraído pelo método Mehlich, de acordo com o teor de argila, para recomendação de fosfatada em sistemas de sequeiro com culturas anuais. Teor de argila Teor de P no solo Muito baixo Baixo Médio Adequado Alto % ------------------------------------mg/dm³------------------------------------ ≤ 15 0 a 0,6 6,1 a 12,0 12,1 a 18,0 18,1 a 25,0 > 25,0 16 a 35 0 a 0,5 5,1 a 10,0 10,1 a 15,0 15,1 a 20,0 > 20,0 36 a 60 0 a 0,3 3,1 a 5,0 5,1 a 8,0 8,1 a 12,0 > 12,0 > 60 0 a 0,2 2,1 a 3,0 3,1 a 4,0 4,1 a 6,0 > 6,0 Fonte: Sou

Como Medir o pH do Solo e Corrigir sua Acidez: Guia Passo a Passo

Como Medir o pH do Solo e Corrigir sua Acidez: Guia Passo a Passo Medir o pH do solo é fundamental para garantir a saúde e a produtividade das plantas cultivadas. Um solo com pH adequado proporciona uma melhor absorção de nutrientes pelas plantas, favorecendo seu crescimento e desenvolvimento. Com o Medidor de pH do Solo , esse processo se torna ainda mais simples e preciso. Neste guia, vamos ensinar como medir o pH do solo e corrigir sua acidez, além de apresentar tabelas úteis para auxiliar na interpretação dos resultados. Passo 1: Preparação do Solo Antes de medir o pH do solo, certifique-se de que o solo esteja úmido , mas não encharcado. Evite realizar a medição logo após a aplicação de fertilizantes ou corretivos, pois isso pode interferir nos resultados. Passo 2: Utilização do Medidor de pH do Solo Ligue o Medidor de pH do Solo. Insira a sonda do medidor no solo, a uma profundidade de aproximadamente 5 a 10 centímetros . Aguarde alguns segundos até que o medidor estabilize e ex

COMO MEDIR A FERTILIDADE DO SOLO EM 3 SEGUNDOS

A Importância da Medição da Fertilidade do Solo e Nosso Novo Medidor A fertilidade do solo é um dos pilares fundamentais para garantir uma agricultura produtiva e sustentável. Entender e medir a fertilidade do solo é essencial para assegurar que suas plantas recebam todos os nutrientes necessários para um crescimento saudável e vigoroso. Nesta matéria, vamos explorar a importância de monitorar a fertilidade do solo e apresentar o nosso novo Medidor de Fertilidade do Solo, que está disponível em nossa loja online. Por que Medir a Fertilidade do Solo? Otimização da Nutrição das Plantas Nutrientes Essenciais: A fertilidade do solo refere-se à capacidade do solo de fornecer os nutrientes essenciais necessários para o crescimento das plantas. Os principais nutrientes incluem nitrogênio, fósforo e potássio, além de micronutrientes como ferro, manganês e zinco. Crescimento Saudável: Medir a fertilidade do solo ajuda a garantir que suas plantas tenham acesso aos nutrientes em quantidade sufi