As plantas Bt são desenvolvidas por meio da biotecnologia para serem capazes de resistir a determinados insetos-praga. Para que as plantas apresentem essa resistência, foi inserido em seu DNA um gene que expressa uma proteína tóxica (Cry) para alguns insetos como lagartas, besouros, moscas etc. Essa inserção, entretanto, não tem efeito sobre outros organismos e nem sobre o ser humano.
As proteínas do grupo Cry são algumas das que são expressas pelas plantas Bt. Essas proteínas são naturalmente produzidas pela bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), encontrada no solo. Por conta desse efeito tóxico aos insetos, cientistas identificaram no DNA da bactéria os genes responsáveis pela expressão das proteínas inseticidas e os introduziram em plantas como a soja, o milho, o algodão e a cana.
No Brasil, a introdução dessa tecnologia ocorreu em 2005, com a aprovação e lançamento de uma variedade de algodão. O milho resistente a insetos (Bt) foi aprovado em 2007, a soja em 2010 e, desde 2017, a cana-de-açúcar também pode contar com essa ferramenta. Desde a sua introdução no mercado, a tecnologia Bt passou a ser rapidamente empregada no campo, tornando-se uma das alternativas mais relevantes para o manejo integrado de pragas.
Os insetos-praga, então, ingerem a planta geneticamente modificada e a proteína Cry se liga a um receptor específico nas células do intestino deles. Isso faz com que os animais acabem morrendo.
Plantas Bt para controlar insetos-praga
As plantas Bt ajudam a controlar insetos-praga que são capazes de causar grande redução na produtividade agrícola em todo o mundo. No Brasil, o problema pode ser ainda mais acentuado pelas condições ambientais e climáticas encontradas no País.
Nosso clima favorece o plantio o ano todo. Por conta disso, favorece também a sobrevivência de pragas como a Helicoverpa armigera e a lagarta-do-cartucho, que atacam plantações de soja, milho e algodão; e a broca-da-cana, que atinge o interior do caule da cana-de-açúcar.
Conheça as principais pragas controladas pela tecnologia Bt em soja, milho e algodão
Helicoverpa armigera
A Helicoverpa armigera é uma das pragas que mais preocupa os agricultores no Brasil por conta do seu poder destrutivo. Ela se alimenta de várias culturas. Dentre elas soja, milho e algodão. Essa praga se multiplica rapidamente e ataca principalmente as estruturas reprodutivas da planta.
Lagarta-do-cartucho
A lagarta-do-cartucho, ou Spodoptera frugiperda, é a principal praga que ataca a cultura do milho, mas também afeta plantações de soja e algodão. O inseto raspa as folhas das plantas, podendo causar furos de formatos e tamanhos variados. Quando há grandes infestações, pode ocorrer a queda da planta.
Broca-da-cana
A broca-da-cana (Diatraea saccharalis) é considerada a principal ameaça as plantações de cana-de-açúcar no Brasil. Ela impacta na qualidade do açúcar e pode causar aumento dos gastos com inseticidas.
Para controle dessas e de outras pragas, várias ações de manejo podem ser adotadas, sendo uma delas a utilização de plantas Bt. Cada uma das diferentes variedades de plantas Bt é desenvolvida para uma ou um grupo de pragas específicas e apresenta diferentes níveis de controle para as distintas espécies-alvo. Dessa maneira, mesmo com o uso da tecnologia Bt é necessário constante monitoramento da lavoura para verificar se existe ou não necessidade de controle complementar.
A utilização de plantas Bt traz benefícios para o agricultor
Ao optar por variedades de plantas Bt, o produtor:
- Mantém a lavoura sadia devido ao menor ataque de insetos-praga. Isso melhora a qualidade da safra gerando ganho de eficiência da lavoura;
- Reduz a aplicação de inseticidas;
- Reduz riscos de intoxicações com defensivos devido à menor exposição dos trabalhadores;
- Diminui a produção de micotoxinas (substâncias químicas tóxicas que são produzidas por fungos e atingem plantações como as do milho);
- Reduz custos de produção devido à redução de gastos com a pulverização (aquisição dos produtos químicos, combustível, mão-de-obra etc);
- Preserva o meio ambiente devido à menor aplicação dos produtos químicos e menor emissão de CO2 (combustível) durante a aplicação;
- Preserva insetos não-alvo e agentes polinizadores pelo fato de serem altamente específicas para as pragas a que se destinam.
Plantas Bt necessitam de medidas específicas de manejo
A adoção de plantas Bt exige um manejo especial. Por isso, táticas que busquem retardar a evolução da resistência de insetos são essenciais para a durabilidade dessa tecnologia. Isso porque, as culturas geneticamente modificadas para resistência a insetos podem ser sua eficácia comprometida pela seleção de indivíduos resistentes.
Para tanto, é preciso que haja o engajamento de produtores agrícolas de todo o País na correta utilização da biotecnologia e na adoção das Boas Práticas Agronômicas em culturas Bt.
Essas práticas contemplam:
- Dessecação pré-plantio
- Uso de sementes certificadas
- Tratamento de sementes
- Refúgio agrícola
- Controle de plantas daninhas
- Monitoramento de pragas.
A rápida adoção das sementes Bt no Brasil é reflexo da eficiência dessa tecnologia no controle de insetos indesejados.
A adoção das boas práticas permite que os produtores protejam não apenas seu investimento, mas também a produtividade das culturas Bt.
Bacillus thuringiensis já era utilizada como bioinseticida
A primeira utilização dessa proteína tóxica para controlar insetos não foi nas plantas Bt. A produção comercial do Bt como bioinseticida começou em 1938, na França. Na década de 1960, esse microrganismo começou a ser usado por meio da sua pulverização sobre as lavouras, pois já se sabia que as proteínas Cry tinham um alto nível de especificidade e segurança.
Adoção de plantas Bt no Brasil
A adoção da primeira planta Bt no Brasil foi uma variedade de algodão e ocorreu em 2006, seguida pelo primeiro milho Bt, em 2008. Em 2013 foi plantada a primeira soja Bt e em junho de 2017, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou para uso comercial a primeira cana-de-açúcar transgênica, que também é Bt.
A cana Bt desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), foi considerada segura sob os aspectos ambiental, de saúde humana e animal. Ao todo, a CTNBio já aprovou 48 eventos Bt no País: 35 de milho, quatro de soja, nove de algodão e dois de cana. Algumas plantas Bt apresentam também tolerância a herbicidas como glifosato e glufosinato de amônio.
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