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DESCUBRA SE SUA ÁREA TEM NEMATOIDES

Como identificar a presença de nematoides na lavoura

O sintoma de ataque em reboleira é um dos pontos-chave para identificar que pode haver nematoides na sua lavoura.
O baixo vigor, pouco desenvolvimento da parte aérea das planta e a clorose das folhas são característicos.
Terrenos arenosos ou franco-arenosos são propícios para os nematoides. Nesse ambiente é mais facilitada a movimentação e migração desses micro-organismos no solo.
Mas isso não inviabiliza que eles também existam em diferentes tipos de solos, desde o mais argilosos até áreas de baixo índice de matéria orgânica.
Temperaturas acima de 28°C e umidade também os favorecem. Condições nada difíceis em nosso país tropical.
Por afetarem o sistema radicular, os sintomas da presença de nematoides podem ser confundidos com deficiências nutricionais e estresse hídrico, uma vez que podem prejudicar a absorção de água e nutrientes.
Mas, então, como diferenciar se o problema são os nematoides ou algum processo nutricional da lavoura?
“Simples”! Vamos à causa do problema: ao solo e as raízes, para verificar e atestar o que está ocorrendo.
E, para isso, é sempre válido relembrarmos quem são os principais nematoides existentes em nossas lavouras.

Principais nematoides

Há vários gêneros de nematoides relacionados aos cultivos agrícolas. Nas lavouras brasileiras predominam:
  • Nematoides das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica)
  • Nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines)
  • Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)
Vamos falar agora sobre como prevenir sua lavoura da presença desses micro-organismos.
nematoides
Nematoide de cisto da soja
(Fonte: Rural Pecuária)
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Nematoide infestando a raiz
(Fonte: Connie Tande, SDSU Plant Science Dept. em Mais Soja)

Como prevenir sua lavoura dos nematoides

Somos os responsáveis por boa parte da disseminação dos nematoides. Digo isso devido à nossa forma intensiva de agricultura, com muitas áreas sendo manejadas e algumas práticas que pouco favorecem a microbiota dos solos.
plantio direto tem contribuído, em partes, nessa mudança de percepção sobre solo, sua estrutura e vida.
Mas os seguintes cuidados ajudam na prevenção:

1. Limpe bem o maquinário

A movimentação de nematoides no solo é bastante limitada. Por isso, o deslocamento de maquinário contribui na disseminação entre áreas desses microrganismos.
A limpeza é tão fundamental quanto a regulagem do maquinário.
Sei bem que as atividades na propriedade são intensas e que essa prática poucas vezes é realizada.
Uma das opções é começar os manejos pelas áreas limpas e deixar por último a área infestada.

2. Rotação de culturas com espécies vegetais não hospedeiras

Acredito que estamos, aos poucos, superando a visão limitada de sucessões constantes somente de soja e milho.
Com essa ‘dobradinha’ sem parar, fica cada vez mais preocupante os ataques de pragas e doenças no campo.
Tem valido mais a pena planejar uma sequência de plantas a serem utilizadas em rotação, como os adubos verdes.
O consórcio de culturas com braquiárias, com foco na produção de matéria orgânica, aumentando outros nematoides com hábito alimentar diferente, diminui os fitonematoides.
Isso ocorre devido ao aumento de bactérias e fungos que são alimentos para nematoides bacteriófagos e micofágos e também ao aumento dos onívoros-carnívoros.
Para aumentarmos a população de fungos e bactérias no solo devemos aumentar o fornecimento de carbono fotossintetizado e nitrogênio amoniacal (via fixação biológica).
E o consórcio entre braquiárias e leguminosas (promotoras de crescimento de bactérias e fungos por um período longo do ano) pode ser um ótima opção.
A crotalária é uma boa alternativa para o controle de nematoides.
Suas raízes exercem a função de armadilha, permitindo a penetração de nematoides jovens que não conseguirão se desenvolver até a fase adulta na planta hospedada.
Há ainda produção de compostos orgânicos de ação nematicida, como a monocrotalina.
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Crotalária aumenta quantidade de nutrientes na superfície do solo
(Fonte: G1)
Além disso, ocorre fixação biológica de N a partir dos processos de simbiose e formação de nódulos nas raízes, com potencial de fixar entre 100 a 250 kg/ha de N.
Compensa fazer adubação verde em vez de duas safras. A terra agradece e o bolso do produtor também.

Outras práticas viáveis

  • Tratamento de sementes – Deve atuar sobre os nematoides nos primeiros dias após a semeadura, permitindo o desenvolvimento do sistema radicular. Essa prática deve ser acompanhada de outras para suprimir os nematoides.
  • Silicatos – Busca-se aumento de resistência pelos fitonematoides através de indutores químicos como ácido salicílico, ácido 2-6 dicloro isonicotinico, acibenzolar s metil  e biológicos. Silício é um indutor químico de resistência para as plantas, mesmo que essencial para o crescimento delas,tem sua importância no combate à doenças e outras intempéries. Separei aqui um estudo sobre o controle de nematoides das galhas com silicato em feijoeiro, tomateiro e cafeeiro dutra.
  • Plantar cultivares resistentes.
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Plantio de soja afetada por nematoides Pratylenchus; nematoides são desafio para a produção de soja na região central do Brasil
(Fonte: Embrapa)

Análise de solo

Caso a área já apresente sintomas, devemos ir à causa do problema e identificar a espécie predominante para um programa eficaz.
Não temos como saber do problema sem analisar o solo.
E é imprescindível uma boa coleta de solo. O bom senso na coleta de amostras compostas faz diferença, pois como a ocorrência é local, ter maior noção de onde vem a origem dessas fará diferença.
Além disso, uma fator bem importante é ter minimamente o histórico agrícola da área.
Uma sugestão é realizar a coleta de amostras compostas a partir da divisão da área em quadrantes de 2 a 10 hectares. Selecione pelo menos de 5 a 10 quadrantes e retire uma amostra composta de cada quadrante selecionado.
O solo deve ser aberto em forma de V, da superfície até 25 a 30 cm de profundidade e retirada a lâmina lateral.
Uma análise de solo bem feita, te garanto, traz resultado.
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(Fonte: Labominas)
Alguns pontos importantes sobre a sua amostra de solo:
  • Não deixar as amostras no sol, já que os nematoides são muito sensíveis e deterioráveis;
  • Não demorar para fazer a análise. Devem ser armazenadas a 10°C (geladeira) até 2 semanas;
  • Não colocar as amostras em congelador.
Às vezes, pela rotina, deixamos passar a realização de amostragem de solo, mas, sinceramente, ela faz muita diferença.
Não há mais a desculpa de não conseguirmos interpretar direito as análises. Hoje temos aplicativos simples que ajudam nisso, inclusive.
Falando de análise para nematoides, a recomendação de coletas é na floração. Este é o momento em que os nematoides já completaram o primeiro ciclo de vida nas raízes, ou seja, 45-50 dias após o plantio da cultura.

Controle biológico de nematoides

Em áreas infestadas de nematoides, o controle é desafiador. Mas a vida no solo faz um papel incrivelmente maravilhoso de se equilibrar.
Primeiro, vou deixar uma recomendação que ajuda a entender mais sobre o que ocorre no solo do ponto de vista biológico.
Esse vídeo que foi organizado pela doutora Ana Primavesi na década de 1950 e recuperado apenas em 201do acervo da UFSM.

Separei uma lista dos principais micro-organismos que vem sendo utilizado no controle de nematoides com resultados muito relevantes.

Trichoderma harzianum

É um fungo que, através de várias estratégias, combate o nematoide das lesões radiculares Pratylenchus spp.

Paelomyces lilacinus

Como fungo saprófito, ele coloniza ovos de nematoides após o crescimento micelial na massa de ovos. Afeta diretamente a capacidade reprodutiva dos nematoides.
Através do parasitismo dos ovos, ele penetra e destrói o embrião ou ataca as fêmeas sedentárias, que são colonizadas e mortas.
Sua capacidade é de promover a redução de 60% na penetração do nematoide na fase de estabelecimento da cultura. Existem produtos comerciais como o Nemat, da Ballagro.

Pasteuria penetrans

É um agente bacteriano com maior potencial de controle biológico para nematoides. Possui enorme resistência para sobreviver sobre as condições do solo.

Bacillus amiloliquefaciens

Essa bactéria pode atuar pela colonização do sistema radicular da planta, alimentando-se dos exsudatos radiculares. Inibe a penetração dos nematoides nas raízes, pois eles não conseguem reconhecer os exsudatos.
Também atuam pela produção natural de antibióticos e toxinas, promovendo a morte do embrião de nematoide dos ovos presentes próximos ao sistema radicular.
Existem produtos comerciais no mercado com o NemaControl, recomendado para o controle de Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares)

Pochonia chlamydosporia

É um fungo que tem mostrado resultado no controle do nível populacional de nematoides dos gêneros Meloidogyne, Heterodera, Rotylenchulus, Pratylenchus. Ele atua através do parasitismo de ovos e fêmeas.

Arthrobotrys spp.

Esse fungo atua pela formação de estruturas ao longo das hifas, que formam uma espécie de armadilha para aprisionar esses indivíduos.
Ele penetra o nematóide, se desenvolve em seu interior e lança suas estruturas vegetativas e reprodutivas para o exterior
Tratamentos bacterianos de solos e de sementes com biopesticidas contendo Pseudomonas fluorescens, Pasteuria penetrans, Bacillus subtilis, B. methylotrophicus e o B. pumilis que controlam o nematoide dos cistos, também têm sido eficientes.

Conclusão

Eliminar os nematoides é praticamente impossível: o foco, então, deve ser quebrar o ciclo de vida dos fitonematoides.
Neste artigo, vimos as práticas que evitam a proliferação desses micro-organismos na lavoura, como limpeza de máquinas e rotação de culturas.
Também falamos sobre as formas de controle biológico desse micro-organismo.
Uma coisa é certa: se você mantiver as mesmas práticas, as pragas se adaptarão ao ambiente. Por isso, mude seus manejos!



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